A Maldição da RTP
Com pompa e circunstância, a RTP passou-se de armas e bagagens para as novas instalações, para os lados dos Olivais, deixando assim ao abandono o já saudoso espaço da 5 de Outubro.
Mas a Arca descobriu que nem todas as armas e bagagens fizeram a mudança. Segundo vários funcionários da limpeza, que ficaram à procura de moedas e outras coisas perdidas, depois da debandada geral ainda se ouvem regularmente, vindos das lúgubres e húmidas caves do velho edifício, gritos e chamamentos desesperados, semelhantes a uivos de fantasmas.
O corajoso repórter da Arca, que não deixa passar uma, decidiu atestar os rumores e aventurou-se no interior da velha RTP. À medida que ia descendo, os gritos ficavam mais claros, cada vez mais familiares. Chegado à cave, foi o espanto:
Luís Pereira de Sousa, agarrado a um microfone, cujo cabo pendia desligado e inútil, chorava e soluçava. Junto dele, de enxada na mão, o engenheiro Sousa Veloso gritava, na sua voz já frágil e rouca, «não nos deixem aqui!». Eládio Clímaco e Fialho Gouveia mantinham-se calmos, de olhar perdido, afagando as inertes coxas de um poster de Serenela Andrade. De uma sala escura dos fundos, aos saltos e largando uma nuvem de poeira atrás de si, surge de repente Vasco Granja que, com um vídeo na mão e uma televisão na outra, anuncia com grande alegria ter conseguido fanar toda a sua colecção de filmes de animação polacos. E, koniec, foi o horror!...
O repórter abandonou aterrorizado a cena fantasmagórica, deixando para trás aqueles esquecidos seres das velhas antenas radiofónicas. Mesmo a tempo de o edifício ser selado para sempre, qual pirâmide fúnebre escondendo antigas e terríveis maldições.
PD
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