Pela polémica que detonou, é talvez o texto doutrinário mais conhecido de Almada. Foi escrito em 1912, mas impresso sobre papel de embrulho em Abril de 1913.
"O Manifesto" é um texto que maldiz uma das figuras da literatura portuguesa que, durante algumas décadas, representou a cultura académica e conformista, influenciando todo um conjunto de escritores, jornalistas, políticos e actores. Trata-se de Júlio Dantas, cuja peça de teatro "Mariana Alcoforado" foi satirizada em jeito de caricatura social, por Almada.
Numa passagem de "O Manifesto", o futurista critica Dantas deste modo: «Não é preciso disfarçar-se pra se ser salteador, basta escrever como o Dantas! Basta não ter escrúpulos nem morais, nem artísticos, nem humanos! Basta andar com as modas, com as políticas e com as opiniões! Basta usar o tal sorrizinho, basta ser muito delicado, e usar coco e olhos meigos! Basta ser Judas! Basta ser Dantas!».
Em suma, trata-se de um ataque implacável ao edifício cultural e artístico vigente que impedia a entrada e frutificação das novas correntes estéticas em Portugal. É Almada a abrir caminho ao Futurismo e a si próprio.
“Não é preciso ir pró Rossio pra se ser pantomineiro, basta ser-se pantomineiro!
Não é preciso disfarçar-se pra se ser salteador, basta escrever como o Dantas!
Basta não ter escrúpulos nem morais, nem artísticos, nem humanos! Basta andar com as modas, com as políticas e com as opiniões! Basta usar o tal sorrisinho, basta ser muito delicado, e usar coco e olhos meigos! Basta ser Judas! Basta ser Dantas!
Morra o Dantas, morra! Pim!
O Dantas nasceu para provar que nem todos os que escrevem sabem escrever!
O Dantas é um autómato que deita pra fora o que a gente já sabe o que vai sair… Mas é preciso deitar dinheiro!
O Dantas é um soneto dele-próprio!
O Dantas em génio nem chega a pólvora seca e em talento é pim-pam-pum.
O Dantas nu é horroroso!
O Dantas cheira mal da boca!
Morra o Dantas, morra! Pim!
O Dantas é o escárnio da consciência!
Se o Dantas é português eu quero ser espanhol!
O Dantas é a vergonha da intelectualidade portuguesa!
O Dantas é a meta da decadência mental!
E ainda há quem não core quando diz admirar o Dantas!
E ainda há quem lhe estenda a mão!
E quem lhe lave a roupa!
E quem tenha dó do Dantas!
E ainda há quem duvide que o Dantas não vale nada, e que não sabe nada, e que nem é inteligente, nem decente, nem zero!
(…)
O Dantas em génio nunca chega a pólvora secca e em talento é Pim-Pam-Pum !
O Dantas nú é horroroso!
O Dantas cheira mal da boca”
José de Almada-Negreiros
POETA D'ORPHEU
FUTURISTA
e
TUDO
Onde está o “Almada” hodierno?
MD